FANNY: Uma mulher à frente do seu tempo

História da modaRVB

Conforme o prometido no último post, hoje iremos contar sobre a história de vida da FANNY, a personagem escolhida para ilustrar a participação da RVB nessa edição do SCMC. Conheça agora um pouco dessa mulher que foi exemplo de luta, garra e inovação numa época em que a independência feminina era extremamente condenada:

Ela, filha de bugre com uma francesa, pobre, analfabeta.  Ele, filho de um Oficial do Exército Imperial Austríaco com a sobrinha neta do Duque de Caxias, nobre, cultíssimo, funcionário do Governo Federal.

O cenário era Ibirama, no interior do estado de Santa Catarina, onde ele atuava como pacificador dos índios “Botocudos” e lá criara o posto Indígena de Duque de Caxias.
Por volta de 1920, quando ela tinha 20 anos, casaram-se por amor numa época em que a “pureza  de sangue” era quesito importante na hora de escolher o cônjuge dos filhos.

Quebraram todas as convenções e mesmo com todas as diferenças uniram-se em matrimônio.  Eram duas personalidades fortes, ambos orgulhosos, voluntariosos, mas de origens muito distintas, o que colocava a prova a estabilidade de tal união. Ele a lapidou, a ensinou a ler, a escrever, a se vestir, a ser refinada. E apesar de ele ter sido seu professor ela se mantinha altiva, não baixava a cabeça para ninguém, muito menos a ele, e a submissão ao marido comum às mulheres da época, não lhe servia.

As brigas eram inevitáveis e violentas e só pioravam com o tempo. Armas em punho… Amavam-se, mas não pertenciam ao mesmo mundo. Entre o amor e o orgulho, tiveram quatro filhos, mas ela sempre esteve à frente de seu tempo e não seguia o modelo de boa mulher e mãe que ficava em casa a se dedicar a família. Era uma mãe extremosa, mas rígida e enérgica.  Gostava de caçar, praticava esporte, montava a cavalo com sela masculina e foi assim que anos depois, encorajada pelos filhos,  cavalgou para longe da vida de luxo, da mansão, do carro, dos próprios filhos e do marido e foi parar na cidade de Brusque.

Cavalgando também, foi até Porto Alegre onde partiria para a Alemanha para atender a um curso de enfermagem. Com o eclodir da guerra em 1939 o embarque foi cancelado e assim acabou por se estabelecer definitivamente em Brusque aonde viria a abrir sua casa de tolerância. Ela não poderia ter escolhido mudança mais radical para sua vida. Logo se tornou muito conhecida na cidade.  Os jovens rapazes da sociedade eram levados ali  para serem iniciados na vida sexual e ia além.

Fanny e suas auxiliares lhes ensinavam a conversar como homens, a beber, a tratar bem  uma mulher. Não atendia qualquer moleque que aparecesse em sua casa, tinham de vir acompanhados ou pelo menos com indicação do pai, ou de um tio, ou de um irmão mais velho… E ela conhecia a todos. Ela era, nas entrelinhas, uma “educadora” de um tema que não se debatia ou sequer existia dentro das instituições de ensino da época. Oficialmente tal atividade não era bem vista pela sociedade, mas, extra oficialmente, era considerada um “mal necessário”. E era graças a ela que a virgindade das “moças de família” se mantinha resguardada.

Mesmo com toda a mudança ocorrida em sua vida, nunca lhe faltou o orgulho. Era como se ela percebesse a importância do papel que exercia na sociedade. E não há quem se recorde dela sem mencionar o respeito e a admiração quase secreta que sentiam por ela. Era uma mulher bonita, vistosa, que desfilava em sua bicicleta pela cidade cumprimentando a todos, com a cabeça erguida, e a habitual postura de realeza que lhe rendera o título de “Rainha da Cidade”.

A personalidade marcante e a fidelidade à sua identidade chamam a atenção e nos servem de exemplo até hoje. Era sim uma mulher à frente do seu tempo, uma mulher de coragem e inovadora.



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